Há muitos pais para além dos biológicos...
Todos os dias me sinto algo afortunado.
Fui abençoado com alguma beleza, raízes capilares firmes, fácil diálogo e bom sentido de humor. Ou seja, tinha tudo para ter feito uma excelente carreira como porteiro de discoteca. No entanto, a minha vida levou-me por caminhos distintos. E a isso tenho que agradecer às várias figuras paternais que tive na minha vida. Quero destacar duas.
Ao meu avô materno devo-lhe o gosto pelas diversas artes. A arte musical, as letras, a arte de beber um bom whisky ou fumar um bom charuto. Ah, e a arte do imenso vernáculo humorístico que ele continha dentro daquele corpo magricela e esguio. Eu bem que achava estranho com 6 anos ouvir tanta anedota porca sobre o rato Mickey mas ia lá eu questionar o homem...
Ao meu avô paterno devo-lhe o gosto pelas coisas simples da vida. O comer bem, beber melhor, levar a vida com calma suficiente para ser contemplada em toda a sua essência, ser alentejano de alma. Sermos nós mesmos, independentemente das opiniões alheias.
A ambos lhes devo muito do que sou. Foram mais que avôs, foram pais. Pais que partiram cedo demais, que deixaram saudades, apertos no coração.
A ambos digo-lhes apenas que hoje não é o dia deles. Ambos vivem no meu coração todos os dias.